sexta-feira, julho 30, 2004


Disse gestão hospitalar?

Há uns dias, num hospital da área de Lisboa, um dos serviços solicitou à Administração a aquisição de dois ventiladores.
O director - brilhante não clínico - respondeu prontamente:
"Não temos dinheiro para essse luxos. Se têm calor abram as janelas".
Estou a fazer uma lista de veterinários nacionais para o caso de o meu carro avariar. Têm título académico, são da cor, interessa lá que percebam da poda?


Este mocinho



... tinha cara de palerma quando vestia de canário.

Agora, de azul e branco, até parece que o QI lhe subiu à cabeça.

quarta-feira, julho 28, 2004


"Morrerei. De pé, como as árvores!"



O fogo alastra pelas florestas e pelas casas... os animais morrem.
As pessoas vão de férias... os animais morrem.
E fala-se do pulmão-floresta, das casas e das férias... Ah e do IRS.
Míope este antropocentrismo que nos condena.
O mundo do Homem só faz sentido e terá continuidade se integrado no resto.
E o resto é tanto. O resto é uma imensidade.
Da Terra espera-se renovação.
De cada um de nós o que se espera?


Barack Obama


O futuro primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América.
Se lá chegar vivo, claro.
Oh land of the brave and the free...

terça-feira, julho 27, 2004


Zzzzzzz...



Com excepção de uns milhares de arrivistas anichados nos partidos, o país está profundamente alheado da vida política.

O tema até é mais abordado hoje do que no passado recente, só que sempre, mas mesmo sempre, numa perspectiva carnavalesca, de repositório da anedota nacional. De facto, ninguém, mas mesmo ninguém, dá qualquer margem de credibilidade ao governo de Santana Lopes e ninguém, mas mesmo ninguém, lhe vê alternativa nas hostes da coligação vigente.

Por outro lado, ninguém, mas mesmo ninguém, vislumbra qualquer hipótese séria de solução governativa no partido rosado. A escolha Sócrates - Filho Soares - Alegre é tão, mas mesmo tão, pobre, que não há Lopes crassos que lhe valham.

Assim, quando se fala de política, ultrapassados os risos (Santana fez de cada português um stand-up comedian), acabamos todos, mas mesmo todos, com enorme sageza e maior desilusão, no estribilho: que o ridículo mata, que os partidos são antros de mediocridade e que não há espírito de missão que resista.

Certo, e que fazemos com esta realidade?

Para não dizerem que me falta espírito missionário, deixo aqui algumas sugestões:

a) Instituição do Serviço Partidário Obrigatório.
Cada português maior de dezoito anos será obrigado a pertencer a uma organização partidária e a participar activamente na mesma e não poderá recusar nenhum cargo político para que for convidado, mesmo que este pague menos de um décimo do seu rendimento habitual.
b) Desobediência Civil Organizada
Cada português maior de dezoito anos será obrigado a, no mínimo, uma actuação semanal de desobediência civil. Para incentivar a criatividade nacional e obviar a que o eleitorado se limite simplesmente a deixar de pagar portagens, o acto de desobediência, deverá, pelo menos uma vez por mês, ser de carácter inovador. Os mil desobedientes julgados mais originais em votação anual dos seus concidadãos ocuparão os altos cargos da nação no biénio seguinte.
c) Solução Rip Van Winkle
Cada português entrará num sono profundo, do qual só acordará quando...

... Curioso!
Anteciparam-se-me todos, mas mesmo todos.

sexta-feira, julho 23, 2004


São genéricos, Senhor!



Não estranho que a putativa Secretária de Estado da Defesa passasse, num piscar de olhos, a efectiva Secretária de Estado das Artes e Espectáculos. Aliás, tanto quanto sei, a senhora também era suplente para o cargo de Secretária de Estado da Saúde e estava na reserva para Secretária de Estado da Educação.

O que é perfeitamente normal. Nada inverosímil, ou sequer inédito, alguém dominar, simultaneamente, as questões da Defesa, das Artes e Espectáculos, da Saúde e da Educação: há, certamente, por aí aos caídos inúmeros descendentes de militares que gostam de circo, apanharam sarampo em pequenos e cumpriram a escolaridade obrigatória.

São seres multifacetados, verdadeiros homens e mulheres da Renascença, que estão naturalmente tão à vontade no cesto da gávea de um submarino como na discussão da polifonia em Marcel Marceau; gente extraordinariamente capaz, habilitada tanto para acabar com as listas de espera nas clínicas privadas como para introduzir a cultura de caracóis no ensino oficial (que os nossos jovens estão cada vez mais incultos e a biodiversidade é o épico do futuro).

Conheço mal a Dra. Teresa Caeiro, mas não me repugna crer que se trata de um destes sobredotados. Também não me repugna crer que o Pai Natal e o Coelho da Páscoa vivam amancebados no Castelo da Branca de Neve. Que o governo que me governa seja constituído por mal paridos soldadinhos de latão, aleatoriamente permutáveis num qualquer exercício púbere de contagem de espingardas, isso já me causa um certo asco.

quinta-feira, julho 22, 2004


Legado

Hoje, o motorista de táxi contou-me uma anedota de Santana. Foi assim que ele a apelidou: uma anedota de Santana, como quem diria uma anedota de bêbados, ou uma anedota de camionistas. Na caixa de correio electrónico, mais duas chalaças sobre a piada que chegou a Primeiro-Ministro.

O clássico marido cornudo já tem substituto no imaginário popular. É obra!

E o país anseia por que seja filha única.

quarta-feira, julho 21, 2004


Cantigas de embalar

Two little dicky birds

Two little dicky birds sitting on a wall
One called Peter, one called Paul.
Fly away Peter!
Fly away Paul!
… …

Lembrei-me, por mero acaso, desta cantiga de embalar.

Qualquer semelhança com factos, pessoas ou pássaros da vida real não passa de mera coincidência. A nenhum britânico (com expressa exclusão de descendentes mistos) se pode assacar responsabilidade pelos poleiros ocupados.


Bem-haja Sr. Lopes

Ontem – na amena cavaqueira de um jantar demorado – a conversa derrapou, inevitavelmente, para o discurso de tomada de posse que eu ainda estou para saber qual era.
 
Estava preparada para dar largas à minha indignação por ter visto um tipo a comer vírgulas na leitura, mastigar palavras sem entoação e cortar frases a meio delas, descartando folhas (obviamente sobejas) num vaivém desnorteado de punho ornado com pulseira de coiro a que não faltava a medalhinha.
 
Um amigo – que é da cor do dito mas de tonalidade distinta – cortou-me a palavra com um sorriso irónico, fino e tranquilíssimo (de receita exclusivamente alentejana), dizendo: “Francisca, isso não é iliteracia. Isso é poder de síntese”.
 
Calou-me. Fez-se luz e abateu-se sobre mim um indizível arrependimento. 
 
Fica aqui, pois, registado o meu mais humilde pedido de desculpas ao homem da pulseira pelo juízo precipitado em que caí. Já agora, e por consequência, ao “mea culpa” devo acrescentar a profunda gratidão por nos ter poupado à leitura integral de um discurso que era, quase com certeza, muito chato e que, de certeza, não interessava a ninguém.
 
Utilizando o dialecto camarário, “benhaja” por isso.

terça-feira, julho 20, 2004


"Crónica da vida que passa"

A Isméria usa pulseira de coiro?

Esta é uma questão que me preocupa. Apesar de não saber quem ela é, estou apostada em passar por um qualquer quiosque e tirar isso a limpo. Vou ver as fotografias, verificar se ela a usa e, em caso afirmativo, que promessa lhe estará associada.

Que tudo isto é muito importante. As Ismérias da nossa sociedade – que também podem dar pelo nome de Pedro, Paulo ou apóstolos quejandos – lembram-me um texto de Pessoa onde se lê:

“Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade.

“A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as paredes da sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas acções – ridiculamente humanas às vezes – que ele quereria invisíveis, côa-as a lente da celebridade para espectaculosas pequenezas, com cuja evidência sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se ser célebre à vontade.

“Depois, além de um plebeísmo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e enfraquece.”

Quando Pessoa escreveu esta “crónica da vida que passa" tudo isto era verdade. Ainda é.

O problema é que as pessoas de bem, que aderem naturalmente ao princípio (as tais “criaturas delicadas”) cada vez se revêem menos nesta “vida que passa”, desistindo, muitas delas, de criticar a “feira das vaidades” e isso apenas alarga o espectro de acção dos que não sabem estar nem ser.

Fica aqui, pois, um apelo aos homens de génio que – perplexos e alheios ao sistema – se demarcam, às vezes com um suave e quase silencioso bater de porta, do “Estado a que isto chegou”. Não se calem. Neste “castelo abandonado, povoado só de medos…” há portas que se abrem “sem ninguém as ir abrir” mas que importa fechar e a via não passa por bater com as próprias.

É que, oitenta e nove anos depois desta crónica, o circo desceu à cidade.

A cidade é hoje perversa e mudou as regras do jogo.

A celebridade pode ainda ser uma forma de plebeísmo. Mas agora, mais do que nunca, o plebeísmo é quase uma condição “sine qua non” para se atingir a celebridade.

E isto porque as criaturas que a usam não são mais desvalorizadas ou enfraquecidas por ela. Ao contrário, usam a falta de valor (ou valores) e a sua fraqueza (a todos os níveis) como trampolim para a atingir.

Se isto é triste, não sei… acho que é ridículo.

Cabe a cada um de nós (independentemente da reacção ao risível) não permitir que o executivo nos faça “caretas” e conquistar novamente “… a distância do mar ou outra, mas que seja nossa.”

segunda-feira, julho 19, 2004


Quem diabos é a Isméria?

Ao passar pelo quiosque para prover o vício, dou uma mirada pelas parangonas. Reconheço raros rostos e poucos dos nomes que enfeitam capas de revistas e primeiras páginas de jornais, mas pressuponho que a maioria sejam ministros, bonifrates de telenovelas, gentinha-vómito misteriosamente designada por seita do “jéte” (aparentados com os manás) e demais carne para canhão. 
 
No entanto, nos últimos tempos, verifico perturbadora tendência. Estão a conspurcar uma classe esforçada e talentosa, que até aqui havia conseguido evitar o lixo da ribalta. Artistas sérios, gente de trabalho, que não merecia a sorte de ver devassada a sua intimidade e de ser misturada com os subprodutos usuais do quiosque nacional.
 
Sério que isto me preocupa. 
 
Anda um homem a debitar poesia nos relvados, exibindo a alma num par de chuteiras para grande glória da nação e orgulho da bandeira dos sete pagodes para depois lhe divulgarem a moradiazinha e as fuças da legítima boazuda!  
 
Pelo andar da carruagem, qualquer dia acabam-se os heróis. 

sábado, julho 17, 2004


Vai nu

Lemos por todo o lado e afirmamo-lo à boca cheia: a presente classe política é composta por oportunistas sem valor. Tipinhos que nunca fizeram carreira em nada que não fosse a "partidocracia" e que, se despojados do jogo de influências, ganhariam a vida a vender seguros ou automóveis usados. Isto tem sido mais evidente de eleição em eleição e de governo em governo e nunca foi tão claro como no momento actual, em que o primeiro-ministro é um zero demagogo sustentado numa coligação com lambe-chinelos de peixeiras e o principal partido da oposição se prepara para escolher líder entre três Zés-ninguém.
 
O que é que mudou? O José Barroso era tão raso como o seu substituto, o coiso das peixeiras já lá estava e o Ferro valha-lhe Deus.
 
Mudou a aparência. Muitas vezes, à mulher de César basta parecer séria. Sabíamos que estávamos a ser governados pela escória, mas uma maioria havia votado na dita. Era uma escória representativa. Se não a tivéssemos sufragado, até poderíamos sentir alguma superioridade moral. Se nela houvéssemos votado, bem... era o mal menor.
 
Agora acabaram-se as desculpas. O mais distraído cidadão sabe de certeza certa que está a ser governado por incompetentes, que nos lugares de decisão política estão opacas amibas e que votar é irrelevante. Ou seja, fomos forçados a enfrentar de vez a realidade. Na política só estão os nulos e o resto é conversa.

quarta-feira, julho 14, 2004


Cenas dos próximos dias

Em entrevista a Judite de Sousa, PSL anuncia que o seu governo será maioritariamente feminino-com-madeixas e que a Secretaria de Estado do Doce Regional passará a funcionar na Periquita.

sexta-feira, julho 09, 2004


Só vantagens - 3

Só vejo vantagens na indigitação do Dr. Pedro Santana Lopes como Primeiro Ministro.

Há q'anos não havia uma silly season tão bem apelidada.

segunda-feira, julho 05, 2004


Só vantagens - 2

Só vejo vantagens na indigitação do Dr. Pedro Santana Lopes como Primeiro Ministro.

Há uma fulana que me deve umas massas valentes e foi colega de curso do indigitado, i. e., vai assessorar por via vaginal.

sábado, julho 03, 2004


Só vantagens - 1

Só vejo vantagens na indigitação do Dr. Pedro Santana Lopes como Primeiro Ministro.

Sou filha única e o meu pai é industrial do tapume.

sexta-feira, julho 02, 2004


"Send in the clowns... don't bother, they're here!"



Não percebo a preocupação e indignação dos portugueses pela substituição, a meio do jogo político, do "mínimo denominador comum" pelo "máximo dominador da asneira".

Por um lado, a escolha da Europa não surpreende nem indigna... a textura do cherne é a mais indicada para a refeição que ela pretende preparar.

Por outro lado, ao povo português - tão tradicionalmente hospitaleiro - ficava mal não oferecer "de bandeja" o pouco peixe que a magra rede da Europa lhe permitiu.

E, depois, se admitirmos que os dados estão lançados (os romanos eram loucos mas eram visionários) na crise sem fundo em que estamos mergulhados, que diferença faz quem ocupa o cargo de PM?

Se faz diferença, só pode ser para melhor.

Para já - e se alguém tinha dúvidas - demonstrou-se à saciedade o forte carácter do suposto substituído e as suas nobres prioridades.

Depois, o pretenso substituto - como PM - pode devolver-nos o sorriso (ou riso) para o qual já não vislumbrávamos pretexto.

É certo...o homem é feio, pires e nem desconfia quem escreveu "...chove, mas que importa? / Se é da sorte de quem ama/ Ouvir violinos até na lama." (ou coisa no género, que para o dito senhor tanto lhe dá).

Mas tem vantagens... nem que seja a vantagem do tal sorriso.

Se o dito fez da Câmara de Lisboa a anedota nacional, imaginem a barrigada de riso - "barigade of rice" como diria o Laurodérmio - que os portugueses não terão com este PM.

A "tristeza de não saber sorrir" terminará, aqui e agora.

Por último, um apelo (ou aviso) aos meus concidadãos: não retirem das janelas o nosso símbolo nacional (mesmo que tenha pagodes chineses) porque, qualquer que seja o resultado do Euro 2004, ainda podemos vir a rir "a bandeiras despregadas".

quinta-feira, julho 01, 2004


Ena, tantos!

E nunca tantos escreveram tão pouco.